ALDO CALVET

 

Gênero:

  1. Drama ecológico

  2. Ato único


PERSONAGENS:

  1. CONTESTADOR

  2. CITADINO

  3. LAVRADOR

  4. URBANA

  5. CAMPÔNIA

  6. COLONO

  7. obs.

  8. CAMPÔNIA, LAVRADOR e COLONO formam, às vezes, um Coro mímico-vocal-corporal-coreográfico.  A sigla é CLC


CENÁRIO:

  1. Uma gruta à DM com entrada visível. O fundo é uma tela branca para projeção de filmes.


MOVIMENTO CÊNICO:

  1. A cena vai sendo iluminada lentamente até que aparece, em luz difusa, CONTESTADOR, de metralhadora em punho, de frente para a platéia, a disparar rajadas sobre rajadas, ao mesmo tempo em que vocifera um monólogo niilista a respeito de tudo e de todos, pois está em desespero e fuga dos centros de civilização. Quem se manifesta é aquele monstro que vive no subterrâneo do indivíduo. É esse monstro que explode diante de injustiças e contradições.

TRECHOS:

  1. "CONTESTADOR - Para trás, réprobos! Eu mato vocês como a cães danados ( Descarrega a metralhadora) Para trás, farsantes da economia! ( Depois de breve pausa ) Contesto a política habitacional! Abaixo a Tabela Price! Morte à correção monetária! ( Descarrega a metralhadora ). Recuso o novo sistema de cálculo. A elevação dos juros. ( Pausa ) Juros! ( Às gargalhadas ) Juros! Já pensaram?


  2. Juros para um povo pobre. Paupérrimo. Um povo que não pode sequer pagar prestações da casa própria. Para um povo pobre uma taxa de dez por cento!


  3. ( Aos gritos ) Cínicos! Conjunto habitacional. Bitolagem. Repilo! Contesto o culto do crescimento econômico com o sofrimento do povo! Negócios. Empresários. Construtoras. Construções. Graças ao mutuário confinado em cubículos de cimento armado! Condenado numa economia inflacionária.  ( Aos gritos )  Perfilar!


  4. Frente ao muro! Todos! ( Às gargalhadas, descarrega a metralhadora ) O culpado sou eu-povo. Fui eu-contribuinte o criador da inflação. Eu, tu, ele, nós, vós, eles.


  5. ( Reflexão, depois de pausa )  Eles!  ( Enérgico )  Perfilar! Diante do muro! Todos!


  6. (Descarrega a metralhadora )   Agora, sim.  ( Lançando um olhar em volta ) Estamos livres. Estas terras estão libertas da ambição. Libertas do lucro exorbitante.


  7. Libertas da riqueza indiscriminada. ( Romântico ) Oh, deixem os campos ao sol. As árvores na terra. A terra na terra. A água nos rios. Os rios nas nascentes a correr, a correr. Os pássaros nos arvoredos. Os rebanhos nos pastos. Os animais e os homens integrados na natureza. Natureza plena. A natureza na natureza.


  8. ( Ameaçador ) Para trás, réprobos ! Vocês não vão demarcar estas terras! ( Com desdém ) Conjuntos residenciais. Imposição da bitolagem. Repilo essa fossilização da moradia. Essa promiscuidade.  ( Forte )  Para fora os topógrafos. Engenheiros.


  9. Arquitetos. Construtores. ( Aos gritos )  Fora! Fora!  ( Desdenhoso )  Conjuntos residenciais...Antolhos da sociedade de consumo nos centros urbanos. ( Aos gritos abafados )  Repilo. Contesto. Repilo. Contesto. Contesto.


  10. ( E a voz vai se perdendo dentro de uma escuridão que, inapelavelmente, invade a cena a lento e lento. Durante o monólogo são projetadas na tela cenas tais como topógrafos com instrumentos ( teodolito ) de demarcação de terra, ora em trabalho de geodesia, ora espantados, aterrorizados, de braços levantados, mãos sobre a cabeça etc. e paisagens campestres. De lado a lado da gruta estão  LAVRADOR e COLONO, ambos portando metralhadoras. Da platéia, subindo para o palco, vêem-se, agora, Citadino e Urbana. Ambos portam armas de fogo) ."...





  11. "CITADINO - Eu defendo o progresso. O desenvolvimento. A comunidade. A civilização.


  12. URBANA - Você foge da civilização. Se refugia nessa gruta. Nessa caverna. Foge do convívio dos homens. Busca as matas. Os campos.( Maliciosa ) Você foge realmente do convívio com as pessoas. Sofre de misofobia.


  13. CONTESTADOR - ( Rindo )  Misófobo, eu? Medo de contato. Tem graça!


  14. URBANA - Bom, misofobia... contato com as pessoas... assim como me vê...


  15. ( Desabotoa a blusa, disfarçadamente, deixando aparecer parte dos seios )


  16. CONTESTADOR - ( Fixando Urbana ) Assim. Assim. Quer contato assim?


  17. URBANA - ( Cínica ) Este é um processo de comunicação muito na moda, entende?


  18. CONTESTADOR - ( Místico ) Esse é um processo de comunicação natural. E você o faz por exibição, na frente do seu marido. Como me vê, estou aqui encantado, longe do pecado, a serviço de Deus, que é a natureza.


  19. URBANA - ( Recompondo-se ) Encantado. ( OT, a Citadino ) Este misticismo me perturba, Citadino. Confesso.


  20. CITADINO - ( A Urbana ) Você acredita nessa farsa? Acredita nele?


  21. CAMPÕNIA - Ela acredita. Como eu acredito nas visões transcendentes.


  22. CITADINO - ( A Contestador ) Essa mulher é vidente. Como você entende as visões que ela...


  23. CAMPÕNIA - ( Corta ) Minhas visões são reflexos. Nem sempre Contestador entende minhas reflexas visões


  24. CONTESTADOR - ( Místico ) Estou encantado. Em mim tudo é encantado. Tudo é encantamento. Encantação. Encantidade"  ...






  25. "CONTESTADOR - ( Místico ) Ele prevê o fim da terra para dentro de cinqüenta anos.


  26. ( Voltam as personagens, aos poucos, ao estado psicológico natural )


  27. CITADINO -( Algo assustado )Ele?! Volta você às mistificações, às profecias. Afinal, é isso que está assustando os homens poderosos e vencedores.


  28. URBANA - ( A Contestador ) Por isso é que querem prender você. Querem levar você daqui desta caverna. Jornais, rádios, televisão, estão fazendo uma promoção doidona sobre suas profecias. Você, breve, será o novo Cristo.


  29. CITADINO - ( Curiosidade ) Ou o Cristo novo.( OT ) Escuta, foi Deus quem falou pra você que está próximo o fim da terra?


  30. CONTESTADOR - Deus, não. Foi Cousteau.


  31. URBANA - ( Indecifrável ) Cousteau... Cousteau... Que santo é esse?


  32. CAMPÔNIA - ( Esclarecimento ) Não é santo não. É o explorador submarino Jacques Cousteau.


  33. CONTESTADOR - É preciso lutar contra a contaminação dos oceanos. Cousteau andou lá pelo fundo das águas e aconselha que aqui em riba se deixe de jogar sujeira lá pra baixo.


  34. CITADINO - ( Alívio ) Ainda bem que  nesta profecia não está envolvida nenhuma divindade.


  35. CONTESTADOR - - Eu sou de Deus. Servo de Deus. Deus me pertence...


  36. URBANA - ( Interrompe ) Como pertence a tudo e a todos.


  37. CONTESTADOR - ( Prossegue ) Deus criou a natureza. Deus criou o homem. Reservou ao homem a capacidade de discernimento para distinguir o bem  do mal.


  38. CONTESTADOR - O homem está sendo vítima do próprio homem. É preciso defender o homem ameaçado pelo próprio homem." ...





  39. "CITADINO - No mundo-rico existem também zonas de pobreza.


  40. CONTESTADOR - ( Místico ) Imensas, nas quais cresce a miséria inconsolável e prolifera o desemprego. No mundo-pobre todas as aspirações são reprimidas.


  41. CAMPÔNIA - Os direitos são mínimos. Os deveres muitos.


  42. CITADINO - ( Enérgico ) Protesto! Direito é lei. É imposição de justiça. Não me consta que o mundo-pobre viva sem lei, sem justiça.


  43. CONTESTADOR - Em matéria de justiça no mundo-pobre é bem como disse certo promotor: " O difícil não é acusar, é fazer a lei ser cumprida". Eu digo que a lei, ao menos, seja cumprida em parte, enquanto o promotor reclama a lei "em toda a sua plenitude".


  44. URBANA - Se não há justiça, não há direito de segurança para todos.


  45. CONTESTADOR - Não há. O direito de segurança é uma utopia que custa muito caro.


  46. CITADINO - ( Desafio ) Não há. Não há. Não bastam afirmações vãs. Precisamos de exemplos.


  47. CONTESTADOR - ( Calmo ) Há processos que só são lembrados para julgamento dezoito anos depois do crime. Quem me dirá que outros criminosos não ficaram impunes? ( Numa prece ) Senhor, tem piedade dos justos e inocentes sujeitos a uma justiça assim. Amém.


  48. CITADINO - Esse seu fanatismo chega a ser irritante. Deus nada tem que ver com essas discussões.


  49. CONTESTADOR - Deus tem a ver com tudo. Os homens se afastaram de Deus. Por isso, o mundo está assim. ( Entra na gruta )


  50. CAMPÔNIA - Quando a justiça dos homens falha, resta apelar para a justiça de Deus. ( Segue Contestador )" ...





  51. "CITADINO - Esse ermitão, profeta dos infernos, nostálgico da natureza, se opõe ao desenvolvimento.


  52. URBANA - Contra os lucros dos negócios da Sociedade Anônima Progresso & Companhia Ilimitada ele berra: ( às gargalhadas ) deixem os campos ao sol! Esse slogan significa equilíbrio ecológico. Preservação da natureza.


  53. ( Urbana e Citadino entram em mutismo e trevas. Reaparece Contestador, iluminado na platéia a falar para as multidões )


  54. CONTESTADOR - Contesto a sociedade de luxo que, sem que os vencedores e poderosos percebam, entra em decomposição. Violência, aqui e ali. Delinqüência, ali e aqui. Repilo esse aglomerado social destituído de finalidades e idéias. Que se vê? Conflitos. Contradições. Crises constantes. Crise social. Crise psicológica. Destruição do meio-ambiente. Poluição atmosférica, visual, auditiva, emocional. Decadência e subestimação dos valores éticos e estéticos. O homem destrói com as próprias mãos as belezas do seu ambiente natural. Há uma luta feroz e tenaz contra a natureza.


  55. Tudo isso, para ostentação de uma sociedade que se dá ao luxo  de reservar duzentos bilhões de moeda universal por ano para fabricação e aperfeiçoamento de armas de guerra! Para dispor dessa imensa fortuna, impõe manter-se o colonialismo econômico que outra coisa não é senão verdadeira pilhagem. ( Evangélico ) Prego a revolução da libertação dos campos. Deixem os campos ao sol! É o que vos peço. Eu sou o pregador desse movimento revolucionário pacífico. Proponho um encontro entre a economia e a tecnologia. Entre a ciência e a política. Substituamos o crescimento pela estabilidade. Pois a estabilidade está ameaçada pelo desequilíbrio ecológico. ( Ditatorial ) Restitua-se à natureza aquilo que se retirou da natureza.


  56. Restituição em dobro. Determino!( Como um demagogo em campanha eleitoral )É preciso acabar com o subemprego. Com a injusta distribuição do espaço territorial.


  57. Devemos combater a fumaça, os detritos, o barulho. É preciso deixar de jogar essa sujeira toda nos mares, nos rios. ( Genuflexo ) Devolvamos a pureza original às praias, aos lagos, aos córregos. Devolvamos a purificação à natureza. ( Em tom demagógico ) Mundo-rico e mundo-pobre. Desafio de nossa época. Mundos de injustiça e privilégios. Abaixo os mundos torpes, onde a desapropriação não passa de esbulho. ( OT ) Todos são iguais perante a lei divina. Está no papel. Não se cumpre na ação. Os trabalhadores são divididos em grupos. Uns têm sindicatos. Outros não têm sindicatos. Uns têm décimo terceiro salário. Outros não o têm. Os orçamentos de guerra, em comparação ao que se destina à agricultura, chegam a ser uma afronta à subnutrição mundial. Convoco a todos a lutar em favor da descolonização. A explosão da riqueza é um abismo aos pés da humanidade. ( Místico ) O mundo necessita de cooperação mútua. Impõe-se o reflorestamento. Tudo nos cabe fazer pela conservação do solo. Jogamos abaixo as riquezas florestais que, para tê-las, nenhum esforço nos custaram e nenhum investimento fizemos. ( Numa transição, ameaçador ) Siderurgia alimentada a carvão vegetal. Que luxo! ( OT ) Defendamos o nosso patrimônio natural. Respeitemos a natureza. ( Suplicante ) Deixem os campos ao sol. Levantemo-nos debaixo da iluminura inspiração de Deus contra os fazedores de desertos. ( De mãos postas a rezar ) Piedade, Senhor, meu Deus, para os latifundiários cujos imensuráveis hectares não cultivados são responsáveis pela injusta distribuição das terras. Por causa dessa prática de injustiça e devido à ociosidade dessas terras, grande parte da humanidade sofre as agruras da escassez de alimentos e morre pela fome. Perdão, Senhor, eu vos suplico para todo aquele que, vítima da ambição, limita o desenvolvimento agrícola e cria o desemprego na

  58. concentração de terras improdutivas. Que se dê o milagre do reflorestamento. Tudo, Senhor, pela conservação do solo. Vede, Senhor meu Deus, o afluxo de milhões de criaturas em busca de trabalho nas cidades. Renegam os campos atrás de meios de subsistência nos centros industriais e terminam famintos nas favelas. Piedade, meu Deus, piedade para o novo escravo da era industrial. Piedade, Senhor. Piedade." ...




  59. "CITADINO - Outro dia, saí sozinho da cabana, cheguei à beira de um córrego. Parei. Vi uma florzinha levada pelas águas. Recordei minha infância na escola. ( Recita com pureza e ingenuidade ) "Deixa-me, fonte! / Dizia / A flor, tonta de terror / E a fonte, sonora e fria / Cantava, levando a flor / Adeus, sombra das ramadas, / Cantigas do rouxinol / Ai, festas das madrugadas, / Doçuras do pôr-do-sol! / Carícias das brisas leves / Que abrem rasgões de luar... / Fonte, fonte, não me leves, / Não me leves para o mar."( Depois de breve pausa ) O mar é o desconhecido. É o abismo.


  60. URBANA - Pela sua sensibilidade, Citadino, imagino a luta que se processa no seu íntimo pelo ato da violência que é obrigado a praticar para sobreviver.


  61. CITADINO - Ainda bem que você reconhece. Me desculpe, meu amor. Aprecio os poetas. Gosto de poesia. Você, mais do que ninguém, sabe. Estou metido em negócios, porque não me realizei como artista. Ora veja, Relações Públicas...


  62. URBANA - Logo que o conheci na empresa, percebi sua queda pelos versos.


  63. CITADINO - Lembra-se?


  64. URBANA - Você deixava quadrinhas bem cretinas sobre minha mesa. Eram cantadas com rima e métrica. ( Riso )


  65. CITADINO - ( Encabulado ) Me desculpe. Tolices. ( Beija Urbana )


  66. URBANA - Ora, Citadino. Outros tempos. Não estão muito longe, mas parecem distantes pela rápida mudança de costumes.


  67. CITADINO - É verdade, querida. Ninguém podia imaginar que a Sociedade Anônima Progresso & Companhia Ilimitada chegasse onde chegou. Em outros tempos, matar era coisa séria, complicada. 


  68. URBANA - Hoje, há um absoluto desprezo pela vida humana. O diretor-executivo da Companhia, com frieza e indiferença, não hesitou diante das suas explicações.


  69. CITADINO - Matar. É a saída.


  70. URBANA - Violência paroxística. É o que eles chamam com razão.


  71. CITADINO - A mim, logo a mim. Eu jamais pensei matar um homem, um ser vivente. E você, muito menos.


  72. URBANA - Aqui, que ninguém nos ouça: esse bárbaro tem razão de fugir da civilização, de abandonar o convívio dos homens, porque é melhor mesmo confiar mais nos bichos e na natureza.


  73. CITADINO - É. Vê, ele termina tendo razão. Devíamos viver escondidos naquela gruta ou noutra qualquer.


  74. URBANA - Pois é. Mas ele quer a terra para os animais, as árvores para os pássaros, os rios, as fontes.


  75. CITADINO - O Contestador tem por você, Urbana, uma consideração toda especial. Você bem que...


  76. URBANA - ( Face à hesitação ) Eu bem que...


  77. CITADINO - ( Corta ) Antes de chegar ao extremo, eu queria tentar tudo, sabe?


  78. URBANA - Tudo...


  79. CITADINO - Usar a diplomacia. Direi... tentar a área sentimental.


  80. URBANA - Você diz dialogar como criaturas que devem se entender e tudo construir com amor...


  81. CITADINO - ( Corta ) Amor. Exatamente.


  82. URBANA - Citadino, você acredita nessa possibilidade...


  83. CITADINO - ( Interrompe ) Com amor, acredito. Por amor, tudo se faz. Nada chega à história senão através do amor.


  84. URBANA - ( Cinismo ) E você espera oferecer estes campos à Sociedade Anônima Progresso & Companhia Ilimitada para que ela transforme tudo isto numa grande cidade, entrando em colóquios de amor com Contestador?" ...





  85. "CONTESTADOR - Os sábios futurólogos. Apenas me limitei a comentar o que os sábios futurólogos predizem, pois eu li. Ou não se deve ler? Por Deus, o senhor, que é servo no mundo-rico, não se prive da leitura, que é um dos poucos bens de que se pode gozar no mundo-pobre.


  86. URBANA - Sabe como os analistas chamam essa forma de contestação?


  87. CONTESTADOR - Subproduto da tecnologia. ( Riso ) Senhora, esse descompasso que se observa é próprio de uma sociedade carente de elementos morais, sociológicos, filosóficos e religiosos.


  88. URBANA - Eu gostaria de saber por que um homem com a sua cultura foge do centro de civilização.


  89. CITADINO - Urbana lembrou bem. Talvez aqui mesmo ninguém saiba desse interesse.


  90. CAMPÔNIA - Bem... poucos aqui acham importante tal indagação.


  91. COLONO - Mas não deixa de haver certa curiosidade. Topei na Estrada do Vai-Quem-Quer um lavrador que fazia fuxico sobre esse assunto.


  92. CONTESTADOR - ( Distância e visualização ) Quero viver em liberdade, para a liberdade e pela liberdade. É proibido?


  93. CITADINO - Depende da liberdade.


  94. CONTESTADOR - Não. Liberdade sem dependência. O limite da liberdade é onde começa o prejuízo de outrem. (OT ) Quero trabalhar em benefício da humanidade, do ser humano, entendido?


  95. URBANA - Não há que protestar contra esse propósito.


  96. CONTESTADOR - Quero viver longe dos poderosos e vencedores. Distante dos opressores.


  97. CITADINO - ( Arrogante ) É um dissidente. Um inimigo do progresso, do

  98. desenvolvimento.


  99. CONTESTADOR  - Sou um novo Neemias.


  100. URBANA - Neemias, o defensor do judaísmo.


  101. CONTESTADOR - A diferença única entre mim e Neemias é que nada tenho contra ou a favor do judaísmo. Procuro restaurar e preservar a fonte da vida - a natureza!" ...





  102. "CITADINO - ( Aparece como um furacão. Mas fala como dono da situação ) Quando me diziam que a mulher o pouco que vale, vale na cama, francamente, sempre relutei para concordar. Mas seria razoável, ao menos, nesta porca empreitada, que a cama valesse para convencer um bruto amante das selvas da loucura em que se acha metido ao desafiar o poder de uma empresa como a Sociedade Anônima Progresso & Companhia Ilimitada.


  103. CONTESTADOR - ( Interrompe, procurando afastar Urbana, de modo a defendê-la ) Desafio o poder de corrupção, você deve dizer.


  104. CITADINO - ( Algo nervoso, ao ver que Contestador tem propósito de avançar sobre ele ) Não se aproxime! Meu ajuste de contas é com ela. Discordo da sua atitude, mas... mas... é com ela. É minha mulher. Minha esposa.


  105. CONTESTADOR - ( Dando um passo ) Você é covarde. Não tem coragem de executar a tarefa que lhe cabe. Quer tirar banca de valente diante do mais fraco. Se engana, porque ela é fraca, mas está comigo.


  106. CITADINO - ( Trêmulo ) Contestador, Por Deus, não avance! Você nada tem com isto. Esse ajuste é um compromisso entre mim e minha mulher.


  107. CONTESTADOR - Cínico! Entre mim e minha mulher. Além de covarde é ainda infame.


  108. CITADINO - Infame?


  109. CONTESTADOR - É sua mulher ou sua espiã? Queria que ela fosse pra cama comigo para confundir relações sexuais com relações de negócios.


  110. CITADINO - Protesto! Isso é calúnia! Você é que está difamando minha esposa.


  111. URBANA - ( Apavorada ) Matar é a palavra de ordem. Cuidado!


  112. CONTESTADOR - ( Rindo ) Matar? ( Apontando Citadino ) Esse não tem coragem nem de matar nem de morrer. ( Avança para Citadino )" ...




BIOGRAFIA : DRAMATURGIA INDEX : DRAMATURGIA


DEIXEM OS CAMPOS AO SOL


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