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TEATRO

Aldo Calvet, por sua dedicação e contribuição ao teatro brasileiro, em todas as suas modalidades - da dramaturgia à crítica e direção de instituições relacionadas à vida teatral - firmou-se como uma das mais significantes vozes de sua época. Para honrar e comemorar esse legado, AldoCalvet.org, é constituído com ênfase educacional, cultural e arquivo histórico de seu trabalho, na data do Centenário de seu nascimento - 13 de março 1911/2011.




"NARRADOR (Cantando) Da miséria e da desgraça/ Não te rias, meu amor/ que o pobrezinho que passa/ Pode ser Nosso Senhor!/ Meu Senhor! Meu Senhor! Sim senhor!"

A CEIA DOS SIMPLES
Arranjo dramático de Aldo Calvet
Baseado em "O Pão de Cristo", de Silva Tavares



"MARIANO Não reclamo o trabalho material. O que me causa aflição, o que me dilacera a alma, é ter de ouvir as últimas confissões de um moribundo, cuja existência passou no meio dos maiores tormentos e sacrifícios, sem ter tido jamais uma compensação. O que torna difícil a nossa missão é o espetáculo da miséria em toda a sua hediondez, em toda a suas plenitude. Imaginem, venho de assistir a um desses quadros tristes."

A CRUZ DO SALVADOR (O SACERDOTE)

Drama em um único momento cênico
Versão de "Deus e a Natureza", de Arthur Rocha



"BERTINI Descansare, io? Má como descansare? (A dar voltas) Per favore. Per Dio! (Suplica) Dio mio! Mio capolavore! Que fazer? Io sono um artista, um lavoratore inteletuale. Io nasci in uno paese del arte. (Com uma expressão de esplendor no rosto) Itália! ( Depois de breve pausa) “Itália mia, benchè il parlar sai indarno alle piagle mortali”

A OBRA-PRIMA

Drama – Ato único 





"1ª LIÇÃO Nossas aulas como vocês sabem, são dadas em uma série de flashes sobre a matéria curricular de nossa especialidade - o português."

CÁTEDRA
Monólogo cômico





"Cláudio substituiu Calígula. Cláudio era tio de Calígula. Cláudio fez de Roma um circo e virou figura folclórica. Nero era filho de Agripina e enteado de Cláudio com quem Agripina casou, depois que Cláudio se divorciou de duas esposas e matara a terceira. A sacanagem era jóia, jóia.

VISÕES ANTIGAS
Monólogo - Tempo único






"20. O Padre Max, muito arejado após um banho nas areais de Búzios, acompanhado de Danuza Leão, foi chegando à casa de praia de um casal amigo, viu uma loura charmosa e tome elogios... Essa não, Padre. Essa é minha mulher. Bradou o dono da casa. Padre Max não perdeu a linha... Que Deus a abençoe e guarde... da tentação do nono mandamento...

GAZETILHA
Monólogo cômico - Tempo único






"PERIVALDO Também, que vocês querem? Esses comerciais da televisão são de dar sono até num lampião. Outro dia falei pro Gervásio - olha, meu caro, põe uma televisão dentro do quarto, de frente pra cama. Você vai ver - sono profundo. Fim da insônia."

TEMPO DE RECESSO
Comédia - Ato único






"HIPÉRIDES Tanto é verdade que queres tirar vingança com esta denúncia. Senhor General-Presidente, este processo deve ser arquivado. Não existe nele culpa provada. Frinéia é o próprio triunfo da beleza. Jurados! É preciso reformular a mentalidade dominante nesta nossa velha Grécia.

UM CERTO JULGAMENTO GREGO
Mini comédia - Tempo cênico único






"BALBINO Vê? É isso! Já não se entende mais nada. Em seis meses passou a dar ordens em tudo e em todos. Você se deixou dominar completamente. Até em mim ela quer mandar. Imagine! Entendeu forçosamente de me mandar trabalhar! Eu, que nunca trabalhei! Não é um absurdo?"

CASA DE NINGUÉM
Comédia em 3 atos






"GHIGHI (repreende Cupello) Não seja indiscreto, Cupello. (Depois de beijar Cupello na boca) Roger Vadim disse com muita elegância que as mulheres sabem muitas coisas sem a necessidade de aprendê-las."

CULLINO & CUPELLO ILIMITADA
Farsa - 2 Atos






"CONTESTADOR Para trás, réprobos! Eu mato vocês como a cães danados (Descarrega a metralhadora) Para trás, farsantes da economia! (Depois de breve pausa) Contesto a política habitacional! Abaixo a Tabela Price! Morte à correção monetária! (Descarrega a metralhadora). Recuso o novo sistema de cálculo. A elevação dos juros. (Pausa) Juros! (Às gargalhadas) Juros! Já pensaram? Juros para um povo pobre. Paupérrimo. Um povo que não pode sequer pagar prestações da casa própria. Para um povo pobre uma taxa de dez por cento!"

DEIXEM OS CAMPOS AO SOL
Drama ecológico - Ato único






"VICENTE - (Confidencial) Conto só pra você. É segredo profissional. Não conta pra ninguém. Eu sempre tive uma inclinação invencível pra me apossar de tudo...
GABRIEL - (Corta) Apossar...
VICENTE - De tudo dos outros.
GABRIEL - Porra! Não entendi.
VICENTE - Apossar. Tomar posse, tá entendendo, velho tonto?
GABRIEL - Tá bom. Você trocou as bolas.
VICENTE - Que bolas?
GABRIEL - Você quer dizer, roubar tudo dos outros. É isso?
VICENTE - Roubar é muito vulgar. No meu particular tratado de rapinagem defino assim o verbete: apossar - impulso instintivo de violência contra um objeto que pertence a outrem. (Ri)"

DIÁLOGO DOS OPOSTOS
Drama - 2 Atos






NARRADOR Acabamos de ganhar o divórcio. Ótimo. Excelente. Já veio com bastante atraso. O desquite era e é uma simples merda. Destrói a família, separa o casal, desfaz o lar e não permite que os desquitados construam novo lar. Por isso, o Brasil possui, de certo, a maior sociedade de amigados do mundo.

ESCAMBO OU NINGUÉM É DE NINGUÉM
Farsa social - 2 Atos - 4 quadros






"HISTRIÃO (Trágico) E tragédias. (Todos riem. Histrião continua representando de modo caricatural) Otelo! Oh, infame, maldito, maldito (Apontando Jumbo) sejas tu! (Jumbo, numa saída falsa, com gestos de inocência. Histrião, aos demais) Demônios! Expulsai-me a chicotadas para fora (Aponta Clara) da vista desta luz celeste! Que os vendavais me tragam sempre em redemoinhos! Que eu ferva em enxofre! Mergulhai-me nos abismos profundos de líquidos incandescentes! (A Clara) Oh! Desdêmona! Morta... Desdêmona! Morta! (Dando passos ridículos para frente e para trás ) Oh! Oh! Oh! (Gargalhadas de todos. Histrião ri também, mas logo toma outro aspecto) Molière! Harpagão! (A Clara) Ah! Filha indigna de um pai como eu! (Num aparte meio moleque) Não menos indigno! (Sério) É assim que aproveitas as lições que te dei? Deixas-te engodar..."

ESTE RIO QUE EU AMO
Musical - 2 Atos - Prólogo e 10 Quadros






"GERMANA (Só. Traja vestido simples de roceira. Ficando na ponta dos pés, lança os olhos distante. Como falando para duas amiguinhas de adolescência) Deixa os baldes no poço. Vamos ver a campina. Eu gosto de correr de pé no chão pela campina. ( Para um lado e para o outro ) Maria Rosa, Rosa Maria, vamos correr pela campina? Sim. Todas nuas. De pé no chão. Como os moleques da rua. Vamos brincar de pega-pega? (Dando sinal de partida com a mão) Já. Pega! Pega!"

EXAUSTAÇÃO
Drama em 1 Ato (Inspirado em Varka conto de Tchekhov)






"KATALINA Os homens nunca oferecem fidelidade à mulher oferecem dinheiro. Fidelidade é poetismo. Ninguém acredita. Dinheiro, não. Sugestiona o próprio dinheiro.
ODETE - Não gosta, então, dos seus amantes?
KATALINA - (Sorrindo) Se gosto deles? Que ingenuidade! (Séria) Não, filha. Gosto do dinheiro deles. E gostando somente do dinheiro, hei de arruiná-los breve. Quero vê-los na miséria. Eles dizem que nós somos as miseráveis da vida. Miseráveis por quê? Porque continuamos na miséria a que eles mesmos deram início. E por que nos procuram?"

KATALINA
Alta comedia -Teatro Social - 3 Atos - 9 Quadros






NARRADOR - (Só) É dia pleno de sol. Sol crepitante. Há uma brisa constante nas terras do Maranhão. O canto guerreiro se encandeia. Lá está sentado, ao chão, amarrado pelo colo com cordas de embira, os pés atados, um jovem esbelto e forte. É o Moço-Tupi, descendente dos tupis, cujas aptidões bélicas se tornaram famosas e conhecidas em todo o litoral, em virtude de sua expansão que precedeu a descoberta do Brasil. Os tupis habitavam as regiões dos rios Xingu e Tapajós. Eles partiram do Sul, por onde penetraram no Brasil.

O BRAVO TUPI
Dramatização de I-JUCA-PIRAMA Poema-heróico de Gonçalves Dias






"Nesta noite de bonança
Deus salve também nossa fé
No plantio do café.
Deus que nos dê esperança
É tudo que tem na roça
Além de talos de milho em pé."

O POBRE DOS CAMINHOS
Auto de Natal - Tempo cênico único






"NARRADOR (Aparece rápido) Eis aí duas criaturas e um só destino - Adriana e Solano. O que neles existe e prende é o amor-paixão. É a posse recíproca, a religião a dois da etnografia de Luc de Heusch. Adriana e Solano nada têm de hippie, de lumpen, hipster, beatnik et-cetera, et-cetera. Solano e Adriana estão fora dessa sub-cultura que predominou em certos jovens frustrados, muito embora, como os hippies ou seus ascendentes e descendentes, Adriana e Solano não se dobrem, não estiquem e nunca se deixem amassar. Solano e Adriana não tomam nenhuma espécie de droga - LSD, maconha, haxixe et-cetera e tal. Mas Adriana e Solano exaltam a prática do amor e condenam a prática da guerra."

O PROSTITUTO
Drama - 3 Atos






"EVANGELISTA Minha paraguaia era ninfomaníaca.
BORGES Não!
EVANGELISTA Ela era viúva e eu seu sexto marido.
BORGES (Descrente) Tá brincando.
EVANGELISTA Matou todos na cama.
BORGES Impossível!
EVANGELISTA Colapso por esgotamento sensorial.
BORGES Você escapou. (Rindo) Você, o sexto marido, escapou (Ri muito)
EVANGELISTA Porra! Que graça tem isso?
BORGES Coincidência.
EVANGELISTA Que? Você também... o sex...
BORGES (Corta) Sou o sexto marido de Lukréscia"

O TRANSPLANTE CAPILAR
Ato único (Imitação do teatro cômico português do Século XIX)





"CARMELA Eu andava inquieta, aturdida, excitada, algo estranha, reconhecia. Nunca estive assim. Nunca! Habituada a ser cortejada do porteiro do edifício ao político mais influente. Do simples balconista ao executivo, industrial ou empresário, banqueiro, poeta, compositor, maestro ou homem de letras, em todos lá percebia o olhar caviloso, desnudando todas as minhas curvas, todos plenos de desejos lúbricos, as pupilas incendiadas de luxúria, sonhando me levar para a cama, - fixação do macho diante da fêmea - me levar para o quarto, o santuário do amor, segundo Rousseau - o célebre filósofo francês das Confissões. Agora, eu confesso: nunca nenhum outro homem perturbou minha libido, minha serenidade feminina constante em algumas circunstâncias até temerosas, tímidas diante do expectar viril... Antes que tudo, a minha atração é o palco, (gesticulando, rodopiando).."

O ÚLTIMO GIGOLÔ
Monólogo - 1 tempo cênico





FÁBULA "Uma zebra, julgando-se muito popular, candidata-se à Rainha da Selva. Vencida pelo leão, que se mantém no trono por livre vontade da bicharada, fica desgostosa e humilhada com a pecha de símbolo do azar. Desde a derrota, passa a perambular pela mata sem destino, acompanhada de um zebróide que a ama em silêncio. Zebra e Zebróide terminam por invadir uma área, no período do ano permitido para caçada. Depois de enfrentarem tiros cruzados, safam-se do meio de uma avalanche de animais capturados por uma armadilha e são convidados a viver numa fazenda com todo o conforto, por um caçador que ganhou o prêmio máximo da Loteria Esportiva, graças ao azar da zebra.
A zebra e o zebróide preferem os riscos da floresta a uma existência cativa com todo o conforto."

O ZEBRÓIDE E A ZEBRINHA OU A FLORESTA DO QUIRIRI
Ato único Infantil





FÁBULA "Uma ratazana se aproxima de uma gaiola de hamsters para induzi-los a sair e, assim, oferecê-los à gulodice de um gato esfaimado que a persegue dia e noite. A ratazana está certa de que o gato comerá os hamsters, supondo que come os filhotes dela, tal como sucedera várias vezes. A ratazana sabe que o dono dos hamsters vai castigar o gato que tem por costume ameaçar os hamsters com constantes saltos à gaiola. Com o golpe, a ratazana pensa ficar livre do gato e viver tranqüila na casa. Com brincadeiras na roda gigante, os hamsters divertem o gato, cuja amizade conquistam e terminam por atrair a ratazana para ele..."

OS HAMSTERS LILASES
Peça infantil - Ato único





"PASQUINEIRO Na Galeria Condor, Largo do Machado, o professor Fernando Fernandes acaba de dar um curso de Educação para não violência. Como presidente da Sociedade Protetora dos Assaltantes, com algumas dicas de Marcos Gomes, vamos iniciar, hoje, nosso cursilho de antiviolência: se você for assaltado, entregue tudo que tiver e peça desculpas ao assaltante por não ter mais para entregar; não seja babaca, não reaja nunca; nada de violência, senão você se fode todo; mire-se no exemplo de Gandhi; violência gera violência; não use arma; você pode matar o assaltante, um pobre desajustado social; pense sobre os problemas com a Justiça; para provar legítima defesa é uma merda!"

PASQUINADA
Monólogo cômico





FÁBULA "Um grupo de abelhas se esforça por exterminar suas semelhantes africanas, alegando serem estas assassinas de lavradores na Região-Homem. Apontam a ação terrorista como causa de problemas sérios para a Região-Apícola, onde vivem em plena liberdade as abelhas procedentes de todas as raças e continentes, pois os viventes da Região-Homem, em represália, promovem uma série de medidas destinadas a alterar a substância biológica da espécie apícola, tais como fabricação de rainhas e zangões por meio de inseminação artificial e, pelo mesmo processo técnico-científico, vão criar a operária combatente-mutante, que é a abelha incapacitada de injetar ou inocular veneno; que o lançamento de fungo na pastagem - uma droga para matar cigarrilhas - polui o ar e constitui grande perigo de contaminação do néctar e do pólen, alimentos essenciais das abelhas. Em contrapartida, outro grupo de abelhas ressalta as qualidades positivas das africanas: voam mais alto que as demais, por isso vencem a poluição, são muito resistentes e mais trabalhadoras, produzem muito mais e o mel é melhor e mais saboroso..."

QUEM NUNCA LAMBEU MEL
Musical infantil - Ato único





"GISELA Carmela, se tu soubesses, minha filha, com que orgulho te vejo e te ouço falar... O meu desvanecimento é enorme, pois é assim que sempre sonhei que fosses. Sempre quis que conhecesses o mundo e a vida...
CARMELA (Corta) Sem percorrer o mundo e sem experimentar a vida?
GISELA O maior de todos os perigos para uma menina é a ignorância do mundo e da vida. Sobre essa ciência só existem uns lábios que podem dizer aos ouvidos de uma filha - os lábios de sua mãe. Somente os lábios da mãe podem despertar a alma sem corromper a alma. Entendeste?
CARMELA Hunhum, hunhum. Escuto.
GISELA As palavras da mãe fazem adivinhar o conteúdo sem revelar o sentido.
CARMELA (Corta) Lembro desta frase o seu amor santifica a lição. Tantas vezes me disseste que decorei..."

SUBLIME MENTIRA
Drama romântico – Ato único





"DOMINGOS (Para a platéia, numa espécie de apresentação, canta):
Com braço forte de escravo
No gemido do arado
A Fazenda de Sinhô
É a mais rica do valado.
Pra preto trabaio num farta
De dia e de noite tombem.
Meu Sinhô de caixa-arta
Veve a rir Cuma ninguém."

UMA CERTA ELEIÇÃO NO TEMPO DOS CORONÉIS
Adaptação da Comédia de Costumes de França Júnior – 3 Atos

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