DRAMATURGIA

SILÊNCIO

O COMBATE Quarta-feira 10 de Outubro de 1934

“SILÊNCIO”

Estimados conterrâneos, Hugo Alberto, Luis de Sevilha e Aldo Calvet.

Recebi e li, atentamente, a vossa peça teatral, “Silêncio”, e, não só o dever da gratidão como, muito mais ainda a beleza que neste trabalho encontrei, obrigam-me dar a minha impressão acerca do mesmo, para o que me sirvo deste, com desassombrada franqueza, de que sempre me muni para tudo aquilo que, mais tarde, nos servirá de alicerce ao nome dignamente empregado de Atenas Brasileira.

A vossa comédia merece de todos os modos o apoio indefinido de todo maranhense, já por se tratar de um produto novo da nova geração intellectual do Maranhão, já por ser uma obra moderna com todos os requisitos exigidos pela técnica teatral de hoje. Dizer-vos que passei horas e horas no encantamento das expressões nela existentes e garantir-vos a boa aceitação que o público dará a essa delicada comédia, pois que pouco tolero os diálogos prolongados e, às vezes, dispensáveis, o que tanto abusaram os teatrólogos do século XVIII. E, “Silêncio”, li e reli com o mesmo entusiasmo, com a mesma vibração de mulher que sobraçada pela mocidade, também sabe sentir o que fala a inspiração, mormente quando esse sentimento parte daqueles que lutam pela restauração de uma glória que sempre nos ha de pertencer porque somos nós, queiram ou não os pessimistas, o povo mais inteligente do Brasil.

À mulher maranhense, recomendo este encantador trabalho de três novos comediógrafos que nada deixam a desejar, comparando-os com os demais da época.

“Silêncio” apresenta uma história singular com a graça e encanto de um sorriso. Cenas dramáticas são exibidas com a leveza de um olhar; pensamento sublime grafado no papel sem perder o sabor do enrêdo, que, sem favor, é o mais original é tudo.

Aos autores de “Silêncio” agradeço a distinção que tiveram submetendo à minha apreciação este deslumbrante trabalho, o qual acabo de premiar com o meu beijo de sincera admiração e respeito.

Carmencita de Oliveira