ALDO CALVET

 


BIOGRAFIA : DRAMATURGIA INDEX : DRAMATURGIA

UMA CERTA ELEIÇÃO NO TEMPO DOS CORONÉIS

Gênero:

  1. Adaptação da Comédia de Costumes de França Júnior

  2. 3 ATOS


PERSONAGENS:

  1. LIMOEIRO

  2. CHICO BENTO

  3. HENRIQUE

  4. PADRE ANSELMO

  5. DOMINGOS

  6. GREGÓRIO

  7. CUSTÓDIO

  8. FLÁVIO

  9. PASCOAL

  10. RASTEIRA-CERTA

  11. ARRANCA-QUEIXO

  12. PÉ-DE-FERRO

  13. ZÉ-CATABRIGA

  14. VOTANTE

  15. JERÔNIMO

  16. PERPÉTUA

  17. ROSINHA

  18. DENGA

  19. POVO


FIGURAÇÃO:

  1. Criada – Pajem – Escravos – Escravas – Eleitores – Capangas – Coro


TIPOLOGIA DAS PERSONAGENS:

  1. 1.LIMOEIRO – “Coronel” chefe político do interior, oligarca em Santo Antônio do Barro Vermelho, para quem o mais importante é estar no poder e do poder tirar as maiores vantagens.

  2. 2.CHICO BENTO – também chamado de “coronel”, é chefe de outra oligarquia, em Pau grande.

  3. 3.HENRIQUE – bacharel em direito recém-formado, jovem, belo, inteligente, arejado, sem experiência de política e problemas sociais.

  4. 4.DOMINGOS – preto escravo, capataz da Fazenda Riacho Fundo, homem dedicado e sentimental; pelo senhor não mede sacrifícios.

  5. 5.GREGÓRIO – professor público da freguesia do Barro Vermelho, um pouco pernóstico.

  6. 6.CUSTÓDIO RODRIGUES – juiz de paz do Barro Vermelho, compenetrado do direito.

  7. 7.FLÁVIO – inspetor de quarteirão, também do Barro Vermelho, homem conciliador

  8. 8.PASCOAL BRAZILICATTO – italiano, vendedor ambulante, é b onachão e esperto.

  9. 9.ANSELMO – vigário da paróquia do Barro Vermelho; sereno, maneiroso, interesseiro.

  10. 10.DENGA – atraente mulata, bonita, tipo clássico de exportação, capaz de despertar muitas paixões.

  11. 11.PERPÉTUA – mulher de Chico Bento, senhora de costumes coloniais, sonsa, autoritária e algo exagerada e hipócrita nos seus moralismos.

  12. 12.ROSINHA – filha de Chico Bento e Perpétua; ingenuidade preconcebida, amarrada a preconceitos e tabus, moça “bem” de província.

  13. 13.RASTEIRA –CERTA, ARRANCA-QUEIXO, PÉ-DE-FERRO, ZÉ-CATABRIGA, VOTANTE e JERÔNIMO - os quatro primeiros, indivíduos desordeiros, violentos, ignorantes, tipos visíveis de marginais; os dois últimos se definem pelo comportamento hesitante.

  14. 14.POVO – significa a revolta da invocação irresponsável, por isso mesmo, passa a ser uma voz isolada sem repercussão.

  15. 15.ELEITORES, ESCRAVOS, ESCRAVAS, CAPANGAS, CABOS ELEITORAIS -  todos gente simples, ingênua, ignorante, lavradores ou roceiros da povoação.


ACÃO:

  1. Em Santo Antônio do Barro Vermelho, interior da Província do Rio de Janeiro.


ESPAÇO CÊNICO:


  1. 1º ATO – Terreiro da Fazenda do Riacho-Fundo. À E., vê-se a varanda da Casa Grande. Janelas e portas dão para o palco.À D., árvores frutíferas.  Ao F., morro que se perde de vista com plantações de café.


  2. 2º ATO – Praça principal da freguesia de Santo Antônio do Barro Vermelho. Ao F., a matriz. À D. e E., casas com portas para o palco.


  3. 3º ATO – A mesma cena do 1º Ato, só que, agora, a compõe uma mesinha à E., com duas xícaras de café.


CENÁRIO:

  1. 1º ATO


  2. A cena é apenas iluminada no centro. Em transposição, Escravos e Escravas com enxadas e foices aram a terra, moem cana de açúcar, mexem farinha, socam arroz com pilão etc.; tudo deve ser feito em expressão corporal; todos se mostram cansados, extenuados, exaustos. O movimento rítmico permanece ao som da música monocórdia que Domingos canta e só cessa quando ele, o capataz, de chibata à mão, faz um sinal para encerrar o trabalho. Aí, todos arreiam no chão as enxadas e as foices. 


trechos:


  1. DOMINGOS – ( Para a platéia, numa espécie de apresentação, canta):

  2. Com braço forte de escravo

  3. No gemido do arado

  4. A Fazenda de Sinhô

  5. É a mais rica do valado.


  6. Pra preto trabaio num farta

  7. De dia e de noite tombem.

  8. Meu Sinhô de caixa-arta

  9. Veve a rir Cuma ninguém.


  10. Moça, bunita, mulata,

  11. Que soca arroz no pilão,

  12. Entra logo na chibata

  13. De meu Sinhô no valão.


  14. Com crioulas e mulatas,

  15. No feroz sapateado,

  16. Hei de, em casa de meu branco,

  17. Trazer tudo num cortado.


  18. Ninguém bula com Domingos,

  19. Que não é de brincadeira,

  20. Quando sorta uma umbigada,

  21. Quando puxa uma fieira.


  22. ( Aos Escravos )


  23. Vamos todos festejá

  24. A chegada do doutô

  25. No terreiro a batucá             REPETE

  26. Lá na casa de Sinhô.


  27. ( A cena vai se iluminando lentamente, já agora com os Escravos dançando e cantando)

  28. Oh que dia de pagode

  29. Na Fazenda de Sinhô!

  30. Sinhozinho chega hoje

  31. Com diproma de doutô!


  32. Nas senzala sastifeito,

  33. Aguardente beberemos,

  34. E, à noite, no terreiro,

  35. O batuque dançaremos.


  36. Oh, que diz de pagode etc. ( repete )






  37. LIMOEIRO – Pois é... A Igreja precisa acabar sua construção...


  38. PADRE ANSELMO – ( Corta ) Acabar, acabar, não digo...


  39. LIMOERIO – ( Corta ) Entendo. Pra que acabar, não é? Continuar. Não pode é parar. Devagar e sempre... ( OT ) Olhe, padre, aí estão os de Pau Grande. Vou atrair essa gente toda para nossa Feirinha deste ano.


  40. PADRE ANSELMO – Que Deus te guie, filho.


  41. ( Entram Rosinha, Perpétua, Criada e Pagem, todos beijam a mão do Padre Anselmo )


  42. PERPÉTUA – ( Reparando Rosinha ) Vejam só como está este chapéu. O que é que você tem nessa barriga?


  43. ROSINHA – Ué. Eu sei lá. Só se foi aquela coisa dura que meu padrinho trouxe da cidade.


  44. PERPÉTUA – Coisa dura?!


  45. ROSINHA – É. ( Aponta a cintura ) Eu meti aqui.


  46. LIMOERIO – Coisa dura não é pra meter na cintura.


  47. PERPÉTUA – ( Ríspida. Num grito ) As anquinhas!


  48. CHICO  BEENTO – ( Depois do susto, pois se distraía vendo a paisagem ) Que é que tem as anquinhas?


  49. PERPÉTUA – ( A Limoeiro ) As anquinhas são para meter na cintura. O senhor já usou anquinhas?


  50. LIMOERIO – Dona Perpétua, me respeite. ( A Chico Bento ) Mas, então, que há de novo por lá?


  51. CHICO BENTO – De novo, novo... é só que seu vigário, agora, é um coronel.


  52. PERPÉTUA -  Dê-me licença que entre, para arranjar esta menina.


  53. LIMOERIO – A casa é sua, à vontade. (Saem Perpétua, Rosinha, Criada e Pagem que entram na casa grande ).


  54. CHICO BENTO – ( Que admirava a paisagem, aproxima-se ) Finalmente, o pequeno tomou juízo. Estudou, formou-se e está de volta. Agora, ele precisa de muito tino nos negócios da freguesia.


  55. PADRE ANSELMO – ( Susto ) Freguesia?!


  56. LIMOEIRO – Negócios da vila. Porque a paróquia...


  57. CHICO BENTO – ( Completa ) Sei, sei. É aqui com o nosso vigário. ( Beija a mão do Padre )


  58. PADRE ANSELMO – Parce nobis, Jesu. Ab amni peccato.


  59. LIMOEIRO – ( Tentando desfazer o ambiente de mal estar ) A conferência provincial dos bispos...


  60. PERPÉTUA – ( Que aparece na janela, chamando ) Padre! Padre! Dê um puinho até aqui.


  61. PADRE ANSELMO – Depois falaremos da conferência. ( Sai )


  62. CHICO BENTO – Ouvi falar que essa tal conferência acabou em conspiração política. Por falar em conspiração e política, e as eleições?


  63. LIMOEIRO – Estão aí na bica. E os candidatos?


  64. CHICO BENTO – Lá quando a isto é que não falta. Com rédea e tudo, nesta paróquia, difícil é saber quem não é candidato. ( Segredando ) Coronel Limoeiro, cá pra nós, um legislativo que não pode apresentar projeto de aumento do funcionalismo não presta mais pra nada.


  65. LIMOEIRO – Não presta, não presta, mas ta assim de pretendentes.



  66. CHICO BENTO – Claro, todos querem a disponibilidade remunerada. Meu amigo, o executivo agora faz tudo...


  67. LIMOERIO -  O Imperador já indicou os presidentes provinciais, sabe me dizer?


  68. CHICO BENTO – Todos. Ta tudo indicado e eleito. Desta vez, não consentirei que os liberais assaltem a urna como fizeram na última eleição, na Freguesia do Rabicho Curto.


  69. LIMOEIRO – Rabicho Comprido.


  70. CHICO BENTO – rabicho curto.


  71. LIMOEIRO – Rabicho Comprido.


  72. CHICO BENTO – Eu digo Rabicho Curto.


  73. LIMOEIRO – Pois então, foi.


  74. CHICO BENTO – Não! Desta vez não! Eu sei que fazer.


  75. LIMOEIRO – Que vai fazer, coronel?


  76. CHICO BENTO - ando os liberais chegarem não vão encontrar porra de urna nenhuma.


  77. LIMOEIRO – O coronel disse liberais?


  78. CHICO BENTO – Liberais, sim senhor.


  79. LIMOEIRO – Perdão. Foram os conversadores.


  80. CHICO BENTO – Conversadores somos nós dois.


  81. LIMOEIRO – ( Corrige ) Quero dizer, conservadores. Foram os conservadores que desrespeitaram o voto livre indireto, as garantias constitucionais.


  82. CHICO BENTO – Que conservadores, nada. Foram os liberais.


  83. LIMOEIRO – Foram os conservadores.


  84. CHICO BENTO – Eu digo liberais.


  85. LIMOEIRO – Pois então, foi!


  86. CHICO BENTO – Assim é que eu gosto. Discutamos no terreno dos princípios. ( OT ) Agora, veja o que fez o Janico Moldura em sessenta e um.


  87. LIMOEIRO – Janico Moldura. Dos chiliques. Dos bilhetinhos.


  88. CHICO BENTO – Colecionou inquérito e mais inquérito pra depois fugir.


  89. LIMOEIRO – Mas foi caçado em toda parte. E, olhe, não vai voltar nunca mais.


  90. CHICO BENTO – Isso eu sei. Toda a freguesia sabe.


  91. LIMOEIRO – E o Faisão? Homem de confiança do Peixe Morto. Era conservador.


  92. CHICO BENTO – Está enganado. Faisão sempre foi liberal. Em sessenta e quatro, virou a casaca.


  93. LIMOEIRO – Mas continuou no ostracismo anos a fio. Não foi cassado como outros do mesmo partido.”




  94. “DOMINGOS – ( Acompanhado pelo Coro dos Escravos, canta, ainda fora de cena):

  95. Dos nossos braços valentes,

  96. Unidos em doce amor,

  97. Façamos forte cadeia

  98. Pra conduzir o doutor.


  99. ( Entram Domingos, de chibata em punho, os Escravos carregando Henrique e, em volta, outros servos, todos comol autômatos cantam em coro):

  100. Os seus escravos, meu branco,

  101. Que vos amam com ardor,

  102. Aqui trazem satisfeitos

  103. Da casa o doce penhor.”




  104. “HENRIQUE – Me sinto tão bem aqui, tio. Um escritor disse que a vida da roça arredonda a barriga e estreita o cérebro. Que amargo epigrama contra esta natureza prodigiosa. Aí está o precursor anti-ecológico da história. Aqui, no Barro Vermelho, me sinto até poeta.


  105. LIMOEIRO – É bonito, é bonito, mas não enche prato de ninguém.


  106. HENRIQUE – De que fala meu tio.


  107. LIMOEIRO  -    De poesia. Quero que te preocupes de coisa séria.


  108. HENRIQUE – Mais séria que poesia? ( Divaga ) Que belo que está aquele horizonte! O sol deita-se em brilhantes coxins de ouro e púrpura, e a viração, embalsamada pelo perfume das flores dos campos convida a alma aos mais poéticos sonhos de amor.


  109. LIMOEIRO – ( À platéia, dando uma banana ) Toma aqui, para os poéticos sonhos de amor! ( A Henrique ) Olha, meu filho, esquece esses sonhos de amor.


  110. HENRIQUE – Ah, não posso, meu tio.


  111. LIMOEIRO – Sonhos são sempre sonhos.


  112. HENRIQUE – Por isso mesmo é que são belos.


  113. LIMOEIRO – Deixa os sonhos. Vamos tratar da realidade. Vira pra cá.


  114. HENRIQUE – Este por do sol...


  115. LIMOEIRO – Deixa o sol quietinho no lugar dele. Tens ainda muito tempo para ver o sol.


  116. HENRIQUE – Não como agora... neste momento.


  117. LIMOEIRO – Tu gostas de sol? Vais ter um tempão para ver o sol. ( OT ) Que carreira pretendes seguir?


  118. HENRIQUE – Advocacia. Claro.


  119. LIMOEIRO – ( Sinal com o dedo ) Não. Não serve para um rapaz de uma honestidade abominável como tu.


  120. HENRIQUE – Diplomacia, serventuário administrativo...


  121. LIMOEIRO – Miséria! Que é isso? Te formaste para... servidor público? Deus te livre!


  122. HENRIQUE – Então, jornalismo.


  123. LIMOEIRO – Escrever o quê, nesta época?


  124. HENRIQUE – ( Com entusiasmo ) Espere, tio... Magistratura!


  125. LIMOEIRO – Esqueceste o principal.”




  126. “GREGÓRIO – ( Concertando a garganta ) Senhor coronel Limoeiro, os nossos amigos que se acham presentes, querendo tributar elevada homenagem ao soberano anfitrião que acaba de chegar coroado com os louros virentes da sabedoria, incumbiram-me, a mim, humilde professor público, o mais mal pago desta freguesia, de saudar tão grande dia, homenageando, ao mesmo tempo, o ditoso tio que vê tão ditoso sobrinho em tão ditosa carreira. Ditosa condição, ditosa gente, como diz o poeta! Viva o senhor doutor Henrique! ( Toca a música ) Agora hão de permitir que recite uma colcheia de minha lavra. ( Tira um papel do bolso e lê ):

  127. MOTE

  128. Alegrou-se a mocidade

  129. Com a chegada do doutor.

  130. GLOSA

  131. Ser escravo jamais há de

  132. O Império brasileiro!

  133. Com o filho do Limoeiro

  134. Alegrou-se a mocidade;

  135. Seu nome à posteridade

  136. Há de chegar sem temor!

  137. Cheio de glória e louvor,

  138. Pois nada o Riacho fundo

  139. Cheio de gozo profundo,

  140. Com a chegada do Doutor.


  141. ( Todos, menos Henrique, dão “viva!” ):

  142. Viva o muito honesto, honrado político e popular coronel Limoeiro!

  143. ( Todos, menos Limoeiro, repetem “Viva!”)

  144. Viva o senhor coronel Chico Bento de Pau-Grande! ( Todos, exceto Chico Bento, dão “viva!”)


  145. LIMOEIRO – Meus senhores, o jantar nos espera. À mesa!

  146. ( Todos vão entrando para a Casa Grande ao som da música que Limoeiro canta):

  147. Vamos, vamos meus senhores

  148. Para a sala de jantar

  149. Entre flores e iguarias

  150. Este dia festejar.

  151. CORO DE TODOS:

  152. Entre flores e iguarias

  153. Beberemos com ardor

  154. À ventura de alegrias

  155. E à saúde do doutor.”





  156. LIMOEIRO – ( A sair da igreja ) Domingos votou! Votoui! O voto ta dentro da urna!


  157. HENRIQUE – E o senhor acha que vão apurar esse voto?


  158. LIMOEIRO – Se vão contar? Ora, ora, são favas contadas. ( A Chico Bento, apontando Perpétua e Rosinha ) Elas vieram cabalar?


  159. PERPÉTUA – ( A Limoeiro ) Cabalar?! ( Gesto ) Aqui ó! Coronel! Aqui! ( Baixo, a Chico Bento ) Muda essa roupa toda cagada, homem!


  160. CHICO BENTO – ( Corta ) Psiu! Dá sorte! Dá sorte! Eu te juro, Perpétua, que noutra não me apanham mais.


  161. LIMOEIRO – Está querendo me abandonar, não é?


  162. CHICO BENTO – Abandoná-lo... Eu? É... Já dei minha palavra...


  163. LIMOEIRO – logo agora, coronel.


  164. CHICO BENTO – Não... Porém...


  165. LIMOEIRO – Porém o quê? ) solene ) Coronel Chico Bento, lembre-se que o lugar de soldado é no fogo.


  166. PERPÉTUA – ( Assustada ) No fogo?!


  167. LIMOEIRO – ( Canta ) Nós somos da pátria amada/ Fiéis soldados/ ( Passa a imitar tiros de canhão, de fuzil, metralhadora, em posições as mais exóticas ) É fogo!


  168. CHICO BENTO – Fogo! ( A Perpétua ) Ele quer me botar no fogo.


  169. PERPÉTUA – Coronel Limoeiro ta pensando que você é bombeiro.


  170. (Chico Bento desaparece, saindo para o fundo da igreja )


  171. LIMOEIRO – Dona Perpétua, nada de água. Não me esfrie o homem nesta hora que ele precisa ficar quente.


  172. PERPÉTUA – Eu preciso dele quente não é aqui...


  173. LIMOEIRO – ( A Henrique ) Vai tomar conta da urna.


  174. HENRIQUE – ( Abraçando Rosinha ) Estou ao lado da urna dos meus afetos.


  175. LIMOERIO – Essa já está no papo.


  176. PERPÉTUA – Não, senhor. Não está. Não papou ainda.

  177. LIMOERIO – Mas vai papar. ( Ordenando ) Vai segurar a outra, na igreja, que está em perigo. Eleitor! Eleitor! Precisamos... ( Reflexão ) Espera. Domingos votou uma vez só. É pouco.


  178. CHICO BENTO – ( Que volta do fundo da igreja ) Esse negro vale uns dois contos de réis. Como gosta de votar! Vai gostar de votar assim...


  179. HENRIQUE – ( Saindo ) Rosinha, Dona Perpétua, entrem nesta casa. Não tenham receio.

  180. ( Rosinha e Perpétua saem )


  181. LIMOEIRO – Henrique, mandão o Domingos aqui.

  182. ( Henrique acena com a cabeça  e entra na igreja )


  183. CHICO BENTO – Coronel Limoeiro, a porrada está solta lá atrás da igreja. Fui fazer uma necessidade, não pude fazer descansado. Cortaram a orelha do João Porro...


  184. LIMOEIRO – Logo do Porro! Coitado!


  185. CHICO BENTO – Rasgaram o escroto do Júlio Saco Rendido. Lembra do Benevenuto?


  186. LIMOEIRO – Aquele alfaiate mulato cor de bosta?


  187. CHICO BENTO – Esse! Já era rendido.


  188. LIMOERIO – ( A Domingos ) Estás machucado?


  189. DOMINGOS – Não, meu sinhô, levei só uma porretada na cabeça...


  190. CHICO BENTO – Quebrou a cabeça...


  191. DOMINGOS – ( Corta ) Não sinhô, quebrou o pau.


  192. CHICO BENTO – Não dá pra entender. Bate na cabeça ( gesto ), quebra o pau...


  193. LIMOEIRO – Cabeça dura. Antes fosse o pau. Domingos, você vai votar mais uma vez.”

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