ALDO CALVET

 
Aldo Calvet teatro dramaturgia Katalina A LUZ DA RIBALTA
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DRAMATURGIA : KATALINA


COMENTARIOS NA IMPRENSA


A LUZ DA RIBALTA

SAO LUIS DO MARANHAO


Ofereceu-me Aldo Calvet, aquelle rapaz que escreveu “Tóxico” de collaboracoa com o inditoso Luiz de Sevilha, que deixou um livro inédito, “Petardos”, um exemplar de “Katalina”, alta comedia em 3 actos e 9 quadros.

Composto e impresso na Editora Graphica “Tribuna” Ltd., o folheto tem um aspecto agradável que vale por um cartão de convite a leitura.

E foi o que fiz. Ao virar a ultima pagina, (são setenta e duas) não tive duvida em presumir que “Katalina” ainda não tinha sido lida . . . Não ouvira ainda pelas esquinas e pelos “cafés”; pelos bancos da praça João Lisboa, ataques violentos ao Aldo Calvet, e relendo algumas paginas tive a impressão de que “Katalina” provocaria outras manifestações de desagrado, taes como avulsos de folicularios, distribuídos fartamente pela cidade, cartazes a Verres, grudados nas paredes dos prédios das ruas mais concorridas de S. Luis, e talvez comícios nas praças publicas.

Tudo nessa alta comedia do Aldo provoca desabamentos. Parece um trabalho composto com o propósito de irritar a pacatez, a sobriedade do nosso meio social, para abalar uns principiozinhos muito poidos que andam por ahi a alinhavar reputações, a espancar a ingenuidade e a palermice de bem afortunadas criaturas que fazem de sua inépcia um galardão por que se recommendam a vida social, e de suas cerzidas virtudes, umas lavadas roupas velhas que se refestellam a sua comodidade moral.

A principiar pelo nome do trabalho . . . Aquela consoante inicial, expulsa do nosso alphabeto, como excrescência, havia de ter causado grande escândalo.

Mas o teatralista explica: trata-se de um nome de guerra com que foi baptisada a heroína da peca. Um nome feito para impressionar a vista e o ouvido, para “inticar” com as consonâncias harmoniosas e ferir a sensibilidade dos neurasthenicos. Os nomes vulgares são secundários de reputações. O vicio também tem a sua indumentária, os seus artefactos e a sua scenographia.

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O K. tem, de facto, uma physionomia estrambótica. E a letra, por excellencia do pe atraz e da cabeça de turco. Tem uma pose aggressiva, e uma expressão do passo de carga. Lembra o soldado que encabeçando um pelotão, reteza os músculos, para numa attitude máscula, se oppor a passagem do adversário.

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Mas o peor não e isto, porque muita gente ha que se tem ajudado na vida com a influencia da grphia do nome. Conheci um engenheiro que usava um nome vulgarissimo: Manoel Joaquim, ou cousa que o valha. Um dia pensou que os maus dias que passava se derivavam do nome, que lhe pareceu próprio de um artesão. Convenceu-se de que havia encontrado a causa do azar que o perseguia, e imaginou que se devia chamar Dioscoro Arco e Flecha. Foi aos jornaes e fez umma declaração nesse sentido,. Tanto bastou. Bons dias llhe começaram a sorrir. Uma sementeira de felicidades!

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O peor e o desenvolvilmento da comedia, de que “Katalina” e a principal figura. E ella o seu centro emotivo. Aldo Calvet não quiz plasmar uma pperdida. Dar-lhe-ia mais trabalho uma ficção. Deu-se apenas a volúpia mental de observar as allucinadas que vivem nos prostíbulos. Seguiu a liccao dos mestres. Entre nos, Aluízio Azevedo que para escrever a sua obra prima o “Cortiço”, podem dizer, quase se mudou para um dos mais afamados da metrópole. Tolstoi, Goorki, fizeram o mesmo. O auctor do “Judeu sem dinheiro” aboletou-se durante dois annos num dos bairros dos judeus, em New York. Murger escreveu os “Vagabundos” acompanhando umma caravana desses felizardos atravez de todas as suas vicissitudes, de seus romance e de seus enlevos sentimentaes.

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A heroína e uma rapsódia dos pprostibulos, onde de vez em quando apparecem Nises bocagianas instruídas, de maneiras fidalgas, que conseguem entre os viciados o que não conseguiram nos andaimes superiores da sociedade. Impõem-se e provocam verdadeiiras allucinacoes nos homens, ate mesmo naquelles que as desprezaram quando eram pulcritudes dos meios saneados onde a capricho se educaram. E a decahida que foi honesta. E a viciada que amarfanha entre os dedos frágeis os mulambos do vicio. E a viciada que, sentindo os miasmas do chavascal, ri de sua própria degradação, que ella enquanto a satyrisa, esforça-se por defender com uns laivos de philosophia pessimista que aprendeu com Albino Forjaz de Sampaio, e outros angustiados que se encarquilharam tentando resolver o problema da moral com o copioso material que houveram da cultura sentimental em que se extremaram, salpicada de ironias acerbas, que ardem e queimam como oortigas.

Katalina e uma anormal sexual, que soffre, atormentada pela violência de uma afrontada desordem do systema nervoso. Por isto, elle não tem consciência de sua fraqueza, da fraqueza com que a doenca a feriu. Acredita que foi levada a pprostituicao pelo desprezo do marido, que era um fútil, hypertrophiado por um narcizismo doentio.

............doenca apresenta-se-lhe ............na forma de uma reação justa a afronta que soffreu. E e por ........ que conversnado com a sua comparsa Odette que e uma  ........patha com exarcebacoes e delírios, diz:

Obrigada a prostituição, fui obrigada também a pensar no futuro. E com isso no horizonte de minha mocidade, a espreitar-me, a cama sombria de um hospital, cuidei de guardar o dinheiro que os homens pagavam pelo extravasamento de minhas energias”.

Vê-se bem, que no decorrer do desvario, começou a sangratejar-lhe no espírito a consciência de si mesma. Intelligente, amparou-se por instincto de defesa, na dissimulação.

O ssub-consciente de Katalina, desde o momento de sua queda, pproduzida ppela sua anormalidade, que procura forçar as portas do consciente. Ficou na tocaia, a espreita de uma oportunidade que se lhe offereceu quando seu complexo pathologico lhe abriu uma clareira.

Ainda conversando com Odette ella afirma:

“Em mim nunca houve depravação. Depravados, dissolutos, libertinos, foram os que me obrigaram a exercer esse “mester”.

E patente que ella toma o effeito pela causa. A causa, não ha percebe como sempre acontece aos doentes de neuroses de fundo sexual.

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Odette e um tipo que se articula pela technica de teatralisacao a “Katalina”. Si a peca fosse uma comedia, dir-se-ia que era um dos comperes. Afigura-se-me o bom senso em estado latente. E ella quem provoca a expansão allucinatoria de “Katalina”.

“Ha pazes, diz Odette a “Katalina”, que são feitas com beijos e outras com bofetadas”.

Este conceito não diz resppeito somente ao lupanar. Estende-se a sociedade em geral.

“Katalina”, porem, não comprehende a profundez do conceito, e dominada pela morbidez que lhe devasta o espírito, continua o dialogo, por entre as sombras de sua angustia:

“Uma mulher intelligente nunca faz as pazes com um homem sem primeiro examinar e minuciosammente a espécie da proposta”.

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A historia de Delsy, estilisada pelo vicio da exploração, da ao trabalho de Aldo Calvet, um de seus mais interessantes aspectos. Duplo e a sua excitação, e o ppretexto de sua loquacidade.

“Não ha crime onde exxiste o amor. O amor e a conseqüência de uma loucura momentânea. Desde que se ame, não existe receo, nem temor”.

Depois o histerismo desanda, precipita-se cachoeirando visualidades de um tropicalismo irresistível, mas vasio, palavvroso, insincero.

“Quero pertencer-te . . . sem receio . . . sem temor . . . vivendo em


, em que esquecida de mim mesmo, possa num se     milagroso muito goso ser tua e minha alma num goso infernal, magestoso, sublime, inigualável . . . “

depois numa scna crua feita com os rapazes Carlos e Britanio na qual se acompanha a suosa de uma desfaçatez oriunda da corrupção moral que de um corpo a esta parte homem ...........................................

...........................................  combater, por vezes com elevado espírito de religiosidade, começa o desenlace da comedia que ao descer do pano faz uma apotheose a san moral, os princípios constructores do bem e as energias que equilibram as sociedades bem organizadas.

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Eu cumprimento o Aldo Calvet que escreveu sem favor algum, um ensaio que desperta a curiosidade dos estudiosos dos aspectos que nesta hora traduzem a orientação da literatura nacional.

“Katalina” representa a superfície tumultuaria de um pélago. A arte apenas toma a si o movimento, a vida, a luz e as sombras dessa superfície, dando-lhe, como lhe cumpre, uma expressão esthetica. E mais nada.

E preciso examinar o fundo do vaso e estudar as correntes que estabelecem as relações entre os effeitos e as causas. O que se aproveita, como matéria de estudo são essas relações. Sem a pratica deste processo, não podem ser estudadas presentemente as individualidades humanas.

Encerrando esta apreciação a “voi d’oiseau”, quero dizer a Aldo que “Katalina” em nada se parece com o “Deus lhe pague” de Joracy Camargo, e que este

theatral. “Deus lhe pague” representa uma these extrahida da lucta entre o operariado e o capitalismo, “Katalina” e um acervo de observações nos muladares da sociedade. Não defende these alguma. E um feliz estudo de pathologia social. Nem acho identidade nos processos. Somente semelhança encontro na maneira de theatralizar.

Mas esta maneira de ser não se pode criar, so o tempo e capaz de modificar.


NASCIMENTO MORAES