ALDO CALVET

 

Gênero:

  1. Alta comédia – 3 atos – 9 quadros

  2. Teatro Social

  3. São Luis – Maranhão – 1938


APRESENTAÇÃO:

  1. Um pensamento sobre a questão feminina no Brasil fez-me escrever este humilde trabalho. Quando o fiz, estava com o pensamento fixo na obra filosófico-social de Joracy Camargo – “Deus lhe Pague”; pensei na tragédia daquele obscuro mendigo. Iniciei o trabalho, igualando-o a “Deus lhe Pague” na estrutura cênica, nos quadros, nos figurantes, mudando totalmente o ambiente e o assunto. Foi uma inspiração, mas nunca uma imitação criminosa.


  2. “Katalina” é a vida de uma mulher honesta explorada pela infâmia; “Deus lhe pague”, a de um operário vilipendiado, roubado pela ambição; ele se fez mendigo, ela, prostituta; ambos, com o mesmo direito de vida, procuraram, naturalmente, onde ganhar o pão com maior facilidade. Ela encontrou um lupanar como abrigo, ele, a porta de uma igreja, e vivem ambos assim.


  3. Escrevendo “Katalina”, animou-me grandemente a incapacidade intelectual da mulher na sociedade e, numa espécie de cooperação espontânea, tentei satisfazer a minha vaidade interior, para ter a impressão de haver concorrido com uma parcela vigorosa à batalha que se alevantava no Brasil, desobrigando-me, ainda assim, do compromisso que assumira com a minha própria consciência, dentro dos limites de minha capacidade intelectual: sentir e defender a classe dos oprimidos.

  4. Com “Katalina” sigo a escola de Camargo; procurei imitar o teatrólogo patrício neste ponto e penso não lhe roubar o estilo, mas segui-lo, adotá-lo meramente.


  5. Eis, portanto, como nasceu e se criou “Katalina”.


PERSONAGENS:

  1. KATALINA

  2. ODETE

  3. QUERIOLANO RODRIGUES

  4. MYRIAN

  5. GUSTAVO

  6. DR. DULIO MENDES JUNIOR

  7. DELSY

  8. BRITANNICO

  9. CARLOS


CENÁRIO:

  1. AÇÃO – uma capital       -        ÉPOCA – 1935

  2. A cena é dividida ao centro – dois setores; para cada setor uma cortina. Setor 1 à E.; setor 2 à D. Setor 2 representa uma ante-sala ricamente mobiliada. Poltronas, cinzeiro, tapetes etc.; ambiente elegante, que dê idéia de uma saleta de estar de pensão de meretrizes. Setor 1 é a sala de um apartamento, onde reside modestamente um advogado, isto para o 1º ato. Nesta sala deve ter telefone, cadeiras, uma pequena biblioteca, uma secretária, retratos de célebres criminalistas etc. etc. No 2º e 3º atos, este mesmo setor 1 é um apartamento elegantíssimo e luxuoso: poltronas, tapeçarias, telefone moderno, quebra-luz, jarros com flores, almofadões etc., tudo, enfim, que dê ares de grandeza.




TRECHOS:

  1. “KATALINA -  Por que me olha assim, “neguinha”?

  2. ODETE – Tenho a impressão de que você é muito feliz.

  3. KATALINA – Sim. Feliz como qualquer mulher de um lupanar: durmo à hora que quero, só me aborreço quando quero e só não tenho dinheiro quando não quero.

  4. ODETE – Eu tinha vontade de ser assim. Tinha, mas não posso.

  5. KATALINA – Não pode por quê?

  6. ODETE – Porque meu gênio é diferente do seu.

  7. KATALINA – Não há gênio diferente. O que há é uma fraqueza maior dominando o poder da vontade. A educação da vontade é conter o impulso dos instintos; cada indivíduo tem em si um impulso íntimo – é a vontade do instinto humano.

  8. ODETE – E que faz, quando briga com seus amantes, para não se aborrecer?

  9. KATALINA – Que faço? Não me contrario comigo mesma. Contrario-me com eles.

  10. ODETE – Como assim?

  11. KATALINA – Você conhece algo sobre o cerebralismo romântico?

  12. ODETE – Não. Que vem a ser isso?

  13. KATALINA – É uma escola filosófica; é a filosofia complicada dos desejos e dos instintos individuais. Fazer o mal pensando só no bem; fazer o bem pensando só no mal. Tudo deve partir do cérebro e o homem deve ser o resultado de um sofisma superior, intangível, criado pelo próprio homem.

  14. ODETE – E por que se contraria com eles e não com você mesma?

  15. KATALINA – Para os explorar. Preciso deixá-los na miséria. Quando brigo com eles, faço jus aos presentes que me vão oferecer pelas pazes.

  16. ODETE – Há pazes que são feitas com beijos e outras com         bofetadas.

  17. KATALINA – Uma mulher inteligente nunca faz as pazes com um homem sem primeiro examinar bem e minuciosamente a espécie da proposta.

  18. ODETE – E se for uma proposta de fidelidade?

  19. KATALINA – Os homens nunca oferecem fidelidade à mulher; oferecem dinheiro. Fidelidade é poetismo. Ninguém acredita. Dinheiro, não. Sugestiona e próprio dinheiro.

  20. ODETE – Não gosta, então, dos seus amantes?

  21. KATALINA – (Sorrindo) Se gosto deles? Que ingenuidade! (Séria) Não, filha. Gosto do dinheiro deles. E gostando somente do dinheiro, hei de arruiná-los breve. Quero vê-los na miséria. Eles dizem que nós somos as miseráveis da vida. Miseráveis por quê? Porque continuamos na miséria a que eles mesmos deram início. E por que nos procuram?”...



  22. “KATALINA – A sociedade não se reforma, instrui-se. Que você compreende por sociedade? Meia dúzia de sensaborões que se misturam intimamente numa patuscada protocolar, convencional? Está enganada. Sociedade é a comunhão de idéias de um povo que pensa. Eu instruiria a sociedade se a mulher pensasse.

  23. ODETE – E a mulher não pensa?

  24. KATALINA – Não. O raciocínio da mulher é a inteligência do homem. (Com ódio) Os homens!

  25. (Neste momento, entram da D.A. Queriolano Rodrigues e Myrian; ele, 50 anos, ela, 20; vestem-se bem)

  26. QUERIOLANO – (A Myrian) Não me demorarei. Acredite que é você a criatura mais encantadora que vi na vida. Não sei por que, mas o primeiro telefonema de sua tia, disse-me algo de sua beleza.

  27. MYRIAN – Sempre galanteador. Já o sabia. Não esqueça e volte.

  28. QUERIOLANO – É um instante. (Sai F. Myrian volta, sai D.A.)

  29. KATALINA – (Que durante a cena ficou em silêncio com Odete) Conhece esse sujeito?

  30. ODETE – Não. Quem é?

  31. KATALINA – Um célebre sedutor. Criou fama na cidade. Às tardes, pelos subúrbios, afundado nos estofos do seu Rolls-Royce, passeia o olhar e vai fazendo vítimas; troca a honra e a virgindade de donzelas famintas por moedas do seu tesouro. Essa é a última. Foi batizada ontem. Valeu-lhe alguns vestidos, muito champanhe e um nome que não é de todo vulgar – Myrian.

  32. ODETE – E a família?

  33. KATALINA – Está conformada. Uma luva de cinco contos... é sempre melhor.

  34. ODETE – Melhor não. Para que temos a justiça?

  35. KATALINA – Justamente para não ver casos dessa natureza. Há de convir em que seja um caso imoralíssimo e a justiça, minha filha, prima pelas coisas morais. Logo...

  36. ODETE – E o nome dele? Quero prevenir-me. Tenho uma irmã solteira.

  37. KATALINA – É pobre?

  38. ODETE – É.

  39. KATALINA – Então não adianta. Vive sozinha?

  40. ODETE – Com uma tia.

  41. KATALINA – Solteirona?

  42. ODETE – Sim.

  43. KATALINA – É perigoso. A titia deseja sempre para as sobrinhas uma felicidade que nunca desejou para si. As titias conhecem do amor o lado superficial, desconhecem a realidade.

  44. ODETE – E ele é assim mesmo, muito perigoso?

  45. KATALINA – Muito perigoso. Conheço-o bem. Chama-se Queriolano Rodrigues. Riquíssimo. Teve sorte como eu. Entre nós só há uma diferença: o dinheiro dele foi ganho ilicitamente e o meu honestamente.

  46. ODETE – Como assim?

  47. KATALINA – O dinheiro que ele possui foi o resultado feliz de uma falência fraudulenta. E o meu ganho com os mistérios diabólicos da carne.

  48. ODETE – Quer dizer que é milionária? Quem é você?

  49. KATALINA – Sou a mulher que deixou de ser mulher para ser a serpente do mal para mal dos homens que me impuseram o mal.

  50. ODETE – E o seu sobrenome?

  51. KATALINA – Sebastiana Mendes Junior é o meu nome verdadeiro.

  52. ODETE – (Admiradíssima) Esposa do advogado Mendes Junior?

  53. KATALINA – (Triste) Sim.

  54. ODETE – E por que a chamam de Katalina?

  55. KATALINA – Porque é mais bonito, de maior atração, diferente. Arranjos da dona da casa, onde iniciei a carreira. Nós somos as artistas do escândalo. O nosso nome, a nossa indumentária muito influem na nossa profissão. Ora, uma Sebastiana não interressaria ao mais imbecil dos homens. Mas Katalina, não! Tem-se logo a impressão de uma interessante silhueta feminina. Uma boneca russa ou alemã. É o que se chama nome sugestivo, poder da sugestão. Os homens são vítimas da sugestão.

  56. ODETE – E como veio bater aqui? Como abraçou a devassidão?

  57. KATALINA – Eu era honesta. Um dia, um homem fez entrar em minha casa uma mulher.” ...





  58. “KATALINA – A sociedade não se reforma, instrui-se. Que você compreende por sociedade? Meia dúzia de sensaborões que se misturam intimamente numa patuscada protocolar, convencional? Está enganada. Sociedade é a comunhão de idéias de um povo que pensa. Eu instruiria a sociedade se a mulher pensasse.

  59. ODETE – E a mulher não pensa?

  60. KATALINA – Não. O raciocínio da mulher é a inteligência do homem. (Com ódio) Os homens!

  61. (Neste momento, entram da D.A. Queriolano Rodrigues e Myrian; ele, 50 anos, ela, 20; vestem-se bem)

  62. QUERIOLANO – (A Myrian) Não me demorarei. Acredite que é você a criatura mais encantadora que vi na vida. Não sei por que, mas o primeiro telefonema de sua tia, disse-me algo de sua beleza.

  63. MYRIAN – Sempre galanteador. Já o sabia. Não esqueça e volte.

  64. QUERIOLANO – É um instante. (Sai F. Myrian volta, sai D.A.)

  65. KATALINA – (Que durante a cena ficou em silêncio com Odete) Conhece esse sujeito?

  66. ODETE – Não. Quem é?

  67. KATALINA – Um célebre sedutor. Criou fama na cidade. Às tardes, pelos subúrbios, afundado nos estofos do seu Rolls-Royce, passeia o olhar e vai fazendo vítimas; troca a honra e a virgindade de donzelas famintas por moedas do seu tesouro. Essa é a última. Foi batizada ontem. Valeu-lhe alguns vestidos, muito champanhe e um nome que não é de todo vulgar – Myrian.

  68. ODETE – E a família?

  69. KATALINA – Está conformada. Uma luva de cinco contos... é sempre melhor.

  70. ODETE – Melhor não. Para que temos a justiça?

  71. KATALINA – Justamente para não ver casos dessa natureza. Há de convir em que seja um caso imoralíssimo e a justiça, minha filha, prima pelas coisas morais. Logo...

  72. ODETE – E o nome dele? Quero prevenir-me. Tenho uma irmã solteira.

  73. KATALINA – É pobre?

  74. ODETE – É.

  75. KATALINA – Então não adianta. Vive sozinha?

  76. ODETE – Com uma tia.

  77. KATALINA – Solteirona?

  78. ODETE – Sim.

  79. KATALINA – É perigoso. A titia deseja sempre para as sobrinhas uma felicidade que nunca desejou para si. As titias conhecem do amor o lado superficial, desconhecem a realidade.

  80. ODETE – E ele é assim mesmo, muito perigoso?

  81. KATALINA – Muito perigoso. Conheço-o bem. Chama-se Queriolano Rodrigues. Riquíssimo. Teve sorte como eu. Entre nós só há uma diferença: o dinheiro dele foi ganho ilicitamente e o meu honestamente.

  82. ODETE – Como assim?

  83. KATALINA – O dinheiro que ele possui foi o resultado feliz de uma falência fraudulenta. E o meu ganho com os mistérios diabólicos da carne.

  84. ODETE – Quer dizer que é milionária? Quem é você?

  85. KATALINA – Sou a mulher que deixou de ser mulher para ser a serpente do mal para mal dos homens que me impuseram o mal.

  86. ODETE – E o seu sobrenome?

  87. KATALINA – Sebastiana Mendes Junior é o meu nome verdadeiro.

  88. ODETE – (Admiradíssima) Esposa do advogado Mendes Junior?

  89. KATALINA – (Triste) Sim.

  90. ODETE – E por que a chamam de Katalina?

  91. KATALINA – Porque é mais bonito, de maior atração, diferente. Arranjos da dona da casa, onde iniciei a carreira. Nós somos as artistas do escândalo. O nosso nome, a nossa indumentária muito influem na nossa profissão. Ora, uma Sebastiana não interressaria ao mais imbecil dos homens. Mas Katalina, não! Tem-se logo a impressão de uma interessante silhueta feminina. Uma boneca russa ou alemã. É o que se chama nome sugestivo, poder da sugestão. Os homens são vítimas da sugestão.

  92. ODETE – E como veio bater aqui? Como abraçou a devassidão?

  93. KATALINA – Eu era honesta. Um dia, um homem fez entrar em minha casa uma mulher.” ...




  94. “BRITÂNICO – Acha que não devia existir a sociedade, ou qual a sociedade que desejava para o nosso país?

  95. KATALINA – A sociedade deve existir, precisa existir para a união da família, de um povo; mas a sociedade da igualdade, dos direitos recíprocos, da justiça, da união livre, do amor, exclusivamente, sem o intermédio mercenário do homem, sem o intercâmbio do dinheiro; e essa sociedade para existir é preciso seja representada pelo talento; a alta sociedade de hoje é como os agiotas: quanto mais juros mais aceitação. Só o talento reconhece o talento. A mulher precisa pensar sobre isto para impor o seu direito.

  96. BRITÂNICO – E a mulher ainda não pensou nisto e não teve esse direito?

  97. KATALINA – Não. A mulher tem sido conduzida pelo homem a todas as suas arbitrariedades. A mulher deste século é incapaz de raciocinar, de refletir sobre o seu estado na sociedade. Ela é como o burro: caminha sempre pelo braço que a puxa. E por quê?

  98. CARLOS – (Dispondo-se a sair) Porque são incultas. (Sai E.A.)

  99. KATALINA – Sim. E sendo incultas, como disse Carlos, não têm mentalidade para discutir com o homem acerca deste ou daquele fato. São inúteis, inaproveitáveis até mesmo na sociedade, que é o centro metropolitano da moral, da grandeza da própria mulher.

  100. BRITÂNICO – E o que é necessário?

  101. KATALINA – É que a mulher esqueça essa mania de matrimônio antes de educar as suas faculdades racionais e trate de ser igual às suas semelhantes. Casar! É o ideal fervoroso da mulher brasileira. Não cogitam das responsabilidades do lar. Não se apercebem que vão dar origem a novas vidas e que destas vidas dependem a grandeza da raça e a grandeza da pátria.

  102. BRITÂNICO – E o dinheiro? Sabe alguma coisa acerca do dinheiro?

  103. KATALINA – Há muitas histórias sobre o dinheiro. O dinheiro tem complicado muita gente séria. O dinheiro é a alavanca que esmaga o trabalho para aumentar mais e mais o capital metal. O dinheiro devia desaparecer da mão dos inúteis. Dinheiro parado é miséria dupla. O burguês ou é analfabeto, cretino ou ladrão. Sou contra a burguesia.

  104. BRITÂNICO – Burguesia. O que vem a ser burguesia?

  105. KATALINA – É uma classe superior composta de gente inferior. O burguês é um homem obeso, que se convenceu de que tem tudo e não precisa de ninguém.

  106. BRITÂNICO – Concluo que a senhora é contra a democracia.

  107. KATALINA – Contra a democracia? Como, se a democracia é a mais bela organização política criada pelo homem? Confesso que não me está percebendo. Um país verdadeiramente democrático é um país livre. Só a democracia estabelece um governo forte, vigoroso, capaz e digno de um povo, de uma raça civilizada.” ...



POSFÁCIO DO ESCRITOR ANTÔNIO LOPES

PARA A EDIÇÃO DE “KATALINA” – 1938 -


  1. Quando Aldo Calvet me apresentou o manuscrito da peça que está impressa neste livro, fazendo-me um resumo verbal do seu trabalho, eu tive vontade de lhe perguntar à queima-roupa:

  2. - Você está doido?

  3. É que teatro nas condições em que ele o quer fazer no Brasil, onde o teatro é um gênero literário de espírito muito convencional, é quase loucura.

  4. Não podia deixar, entretanto, de ler a peça. Li-a e, ao terminar a sua última página, tive a impressão de que, em “Katalina”, Aldo Calvet fez teatro de verdade, vigoroso, espontâneo, impressionante, original.

  5. Estou agora a pensar: que é que vai dizer certa espécie de público a propósito dessa peça. Estou a ver aquela “tolice de cabeça de touro”, da qual falava Flaubert no prefácio do livro de poemas de Maupassant arrastado perante a justiça dos tribunais austeros de França sob a acusação de imoralidade, a investir contra a peça do jovem escritor maranhense em arrancadas furiosas.

  6. E, todavia, Aldo Calvet escreveu um trabalho rigorosamente verdadeiro pelo ambiente, como pelos caracteres, sobre problema social pouco estudado. Apenas divergiu a sua Katalina dos moldes daquelas mundanas heroínas do teatro de outrora, que se deixavam morrer tuberculosas quando abandonadas pelos Armandos Duval, e faziam chorarem as mocinhas ingênuas, invejando intimamente o destino de tão românticas criaturas sacrificadas a paixões românticas. Essas Damas das Camélias eram pintadas em cores sedutoras diluídas em água de flores de laranjeira; e aquelas que Aldo Calvet põe em cena não suscitam, projetadas à plena luz da verdade, senão o horror a sua desgraça e ao seu calejamento no vício, fazendo correr deste a mulher honesta, para permanecer dentro de um outro ambiente onde não se respire a atmosfera mefítica de prostíbulo...

  7. Entre todas aquelas infelizes incapazes de reação contra o meio social que as lançou vivas no Inferno de Dante surge o espírito varonil de uma que se revolta e busca na própria energia abrir um caminho para a felicidade pelo amor. É uma heroína feita, não de sentimentalismo, mas de músculos e nervos.

  8. A peça de Aldo Calvet discute uma tese social, focaliza um meio, movimenta personagens que têm vida e encerra cenas por vezes de verdadeiro interesse dramático.

  9. E nem lhe falta interesse moral compreendido dentro da realidade que se surpreende na vida, e não da abstração que se encontra nos tratados. Sobre o problema social que estuda disse mais do que provavelmente exararia uma epístola do ortodoxo patriarca de Constantinopla.

  10. Não faz propaganda do comunismo ou do fascismo, do amor livre ou da sublimada união ariana. E com este defeito é que talvez não esteja “up-to-date”...

  11. O autor escreve sem afetação, fazendo os seus tipos discorrerem com toda a naturalidade. Não raro se eleva a trechos de intensa vibração. E as cenas são lançadas com apreciável nitidez técnica, o que denuncia, em Aldo Calvet, a vocação de um escritor dramático.

  12. Os leitores de boa fé concordarão, creio, com estas minhas impressões.

  13. Mas vamos que divirjam em alguns pontos. Reconhecerão, pelo menos, comigo, que a peça de Aldo Calvet tem qualidades mais brilhantes do que muitos trabalhos ultimamente aclamados em palcos brasileiros.



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